domingo, 26 de dezembro de 2010

Ao Amigo

E era uma quinta feira qualquer, eu me levantava meio incomodo por ser tão cedo, como sempre tomo meu Toddy e vou para um bom banho quente, me lembro de ser quinta feira me lembro de ter tomado o Toddy e o banho, mas não tenho lembranças do gosto deles, de alguma forma ter saboreando eles.
Lembro-me ainda de ter pego a vã, sentado na frente, chegado ao colégio pouco mais de quarenta minutos antes do horário da aula, me lembro de ter visto amigos chegando logo após eu, mas dentre todos há um qual eu não me lembro de ter visto aquela manhã.
Mas nem havia notado ainda que não o tinha visto, entrei para aula de uma quinta feira qualquer, sabendo que era quinta e lembrando de um céu sem graça alguma num tom de cinza, certo que o sol poderia não aparecer, mas sem acreditar que poderia chover.
Vamos que vamos cheguei à sala com a matéria na lousa, com um bocado de preguiça ainda comecei a copiar no caderno o assunto da lousa, me bate um mal estar nesse momento fico estranho em com as mãos tremendo, mas certo, era apenas o sono que ainda não passou.
Um incerto tempo depois disso uma colega de sala, quem eu considere muito histérica, adentra a sala em prantos, vira aos prantos querendo falar alguma coisa para a garota que fazia dupla comigo, em sua primeira investida não entendemos nada, apenas o fato que certamente era algo grave.
Até mesmo para mim que acreditava na histeria daquela garota, hesitei na certeza de que aquilo era um simples problema, infelizmente estava com a razão, em sua segunda tentativa ela foi bem clara, “Naaahhh!” ela disse... “O Cabeça morreu em um acidente de carro...” sua segunda frase me deixou paralisado e minha dupla horrorizada.
Eu não me lembro quem estava na sala, nem mais o que eu fazia lá, me lembro de ser quinta feira e minha dupla saia aos prantos da sala tão descrente quanto eu daquilo, eu parti na busca por amigos para confirmar que aquilo não passava de um momento de histeria e poderia sair daquele limbo de tristeza que mergulhei assim que entendi as tristes palavras de minha amiga.
Mas como lembro e como repasso infinitas vezes ao passar pelos corredores do laboratório avistar meia dúzia de alunos, alguns poderiam ser amigos, mas nem reparei procurei desesperado segurando as lagrimas o quanto podia por alguém que me confirmasse que aquilo era um grande engano.
Mas todo fudido em emoções me despedaço ao saber que aquele momento de histeria da minha colega tinha um fundamento, eu na maior frieza que já consegui ter, fechei minha cara, peguei a minha mochila, e pelo caminho tentava digerir aquela informação, passei direto por vários rostos, alguns queriam ainda me prestar alguma solidariedade, mas nem reparei.
Nem me importei meu corpo só me fazia andar a passos largos e rápidos para algum lugar, eu tenho certeza que não sabia para onde ir, simplesmente achei um banco num canto qualquer, ao sentar eu tive a sensação de uma avalanche de coisas recaindo sobre meus ombros, senti muita coisa simplesmente me jogando para baixo.
As lagrimas que fazia tanta força para segurar saiam em prantos incontroláveis, em meio às lagrimas e soluços meu coração se debatia incerto, descrente, eu não sabia se entendia o que eu se passava, mas tinha certeza que aquilo eu não aceitava, minha alma inteiramente destroçada era ainda mais estilhaçada naquele limbo de agonia.
Eu chorei com toda a dor que se tem pra chorar, eu chorei com toda a inocência que se tem por não entender, eu chorei com os olhos, com a alma e com cada fibra que ardia no meu coração, que ardia por dor, por ódio e como ardia.
Eu respirei fundo, me levantei tentava desesperadamente aumentar o som dos meus foninhos que já se encontravam no Maximo caminhei com ódio querendo simplesmente o silencio do meu quarto, uma das minhas amigas veio para me consolar e eu gesticulando disforme consegui explicar que queria ficar sozinho.
Naquela quinta feira eu ainda me lembro de ter avisa um ou dois amigos que meu amigo havia falecido e de ter ido ao velório, coisa que eu detesto fazer, mas que só Deus sabe como eu queria estar lá. Queria com toda a inocência ver meu amigo se levantar e com toda a cara de pau dizer “tava brincando gente”.
Porque para nós, a desgraça não passava de uma brincadeira, muito sem graça, mas apenas uma brincadeira, mas foi uma brincadeira muito mais seria que eu podia naquele momento entender.
Lembro-me bem, meu amigo, grande amigo, em outras palavras grande irmão, veio a falecer naquela quinta feira, vitima de sua própria irresponsabilidade, autor imprudente de uma curva muito aberta e condenado a atingir um caminhão na contra mão, falecendo sem nos dar a oportunidade, nós seus amigos e familiares de nos despedir.
Meu querido amigo veio a falecer naquela quinta feira sem ter completo 19 anos, sem ter falado mais uma vez que amava sua namorada, sem ter bebido com os amigos, sem ter ido a aula, sem ter feito uma infinidade de coisas, e de todas elas a que eu mais queria era um singelo e caloroso abraço, que ele partiu sem me dar.
Ao meu amigo eu não sei como dizer, não sei como fazer, mas muito obrigado cara, você me proporcionou coisas incríveis, que eu tenho certeza de serem incríveis pela saudade que eu sinto delas, pena que de todas essas lembranças a ultima tenha que ser tão dolorosa, mesmo assim abrigado... Te amo e sinto sua falta cara...


Dedicado a André de Proença, estimado amigo, filho e irmão, saudades da família Fundão.

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